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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Uma nova história de... Julieta


Nada de Verona. Isso mesmo, Romeu e Julieta nasceram em Siena, segundo Anne Fortier. Para mim e uma outra porção significativa de garotas, a quantidade de recontos e referências ao clássico Shakespeariano (Romeu e Julieta) tornou a história inquestionável e o enredo impassível de erros ou licenças poéticas. O que prova ser uma grande falta de reflexão, uma vez que crescemos tendo em vista viver um grande amor digno de ser imortalizado por um grande poeta. Nesse quesito, indubitavelmente, o exemplo é, com certeza, o amor proibido e teatral do jovem casal italiano.

As razões de Shakespeare para escolher a Itália como cenário de sua mais famosa obra não é lá tão extraordinária. A Itália, sensual, misteriosa e palco da explosão renascentista (um novo modo de pensar, agir, essencialmente um movimento cultural) e também centro cristão, era o perfeito background para um drama tão intrínseco. Dois jovens, a tentação de um amor proibido, famílias em guerra e a subserviência feminina eram adequadas tanto ao espaço geográfico quanto temporal, tornando a narrativa verossímil. Eliminando as toneladas excedentes de drama e poesia, ao analisar o enredo separadamente, encontramos uma história de amor que é uma perfeita tradução dos efeitos variados e intensos que este sentimento pode causar.

Para compor uma obra que se distingua de tantas outras, inspiradas pela peça original, é preciso perícia e extrema cautela. É quase um sacrilégio ser infiel à verdadeira essência da trama, entretanto, seria plágio mantê-la idêntica ou inalterada. Quando uma obra é tão famosa e comentada, torna-se cada vez mais difícil reproduzi-la sem ouvir críticas negativas.

Entretanto, Anne Fortier realiza com maestria esse feito. Em seu livro Julieta (Sextante, 448 páginas), ela demonstra talento com suspense e romance histórico, tornando-se um agradável mix de Phillippa Gregory (famosa por romances históricos como "A irmã de Ana Bolena", que originou o filme "A Outra", com Scarlet Johanson) e Dan Brown (autor dos extraordinários O código Da Vinci e Anjos e Demônios, por sinal seu colega de editora).

Agradando imensamente jovens leitoras, ávidas por contos de amor, Anne surpreende ao inserir no corpo da trama uma dualidade de narrativas. Para que se compreenda a história da protagonista, Julie Jacobs , e sua irmã gêmea (ou perfeita antítese) Janice Jacobs, precisamos simultaneamente de informações a respeito do mito que muda a vida de ambas: A verdadeira história de Romeu e Julieta, ou Romeo Marescotti e Giulietta Tolomei.
As gêmeas, orfãs, descobrem após a morte da tia, que possuem uma curiosa herança genética, acompanhada de uma maldição fatal: São descendentes de Gianozza, irmã da mártir Giulietta, verdadeira inspiração para a obra de Shakespeare. Julie e Janice descobrem seus verdadeiros nomes, Giulietta e Gianozza (nomes dados tradicionalmente às jovens Sienenses gêmeas) e partem para a Itália em busca da solução do mistério que pôs fim à vida de seus pais, pesquisadores.

Julie (ou Giulietta) se envolve profundamente com a história de seus antepassados, determinada a acabar com a maldição secular que dizima sua família. Por acidente, acaba envolvendo-se em mais dramas do que gostaria, e desvendando mistérios sobre a própria origem.

O mais interessante é que Fortier quebra tabus ao reconstruir a lenda de Romeu e Julieta, de maneira tão detalhada e crível que se torna difícil de duvidar. Ela surpreende também ao fugir do usual arquétipo de Julietas: Frágeis, Belas, Cegas de amor e poéticas. Sua Julieta é uma garota insossa, comum, descrente e amargurada. Anne também foge dos padrões ao tornar a trama e o mistério donos do foco do leitor, ao invés do romance adocicado. (Apesar de não cortá-lo por inteiro...)

"Julieta" é uma leitura obrigatória para os aficcionados por história e ávidos por uma trama nova e refrescante.

Nota (0 a 10): 9,5

Ponto alto: A mistura de duas narrativas viciantes e bem construídas
Ponto Fraco: Poucas explicações acerca das relaçoes entre personagens, deixando o leitor confuso por diversas vezes com os solavancos genealógicos


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